Crônicas: VRUM VRUM BI BI ( o meu maior desejo é... ) - texto 2 terapia da palavra

Meu maior desejo é um carro.
Um carro?
Sim. Um carro.
Ora bolas? Um carro?
Sim, por que não pode ser um carro?
Material demais, não acha?
Ora, e eu não posso ser como qualquer ser humano, e ter desejos materiais?
Você? Ter como maior desejo um carro? Não me parece condizente com quem você é, com seus valores e seu jeito de ver a vida pelo lado subjetivo e emotivo.
Bem, não é porque eu valorize sentimentos, relações e momentos que eu não deseje tanto ter um carro.
Tudo bem, tudo bem. Só não consigo entender isso agora. Não vai falar de amor, de sonhos de infância, de metáforas filosóficas?
Não, não vou. Não é isso que desejo mais do que tudo.
E por que então quer tanto um carro?
Liberdade.
Liberdade? Um carro? Pra você um carro é isso? Não entendo.
Sim. Liberdade. Eu nunca tive o meu carro. Sempre foi o do papai, o do irmão, o do marido (nosso). Da cor, do gosto, com motor, da marca que eles todos queriam. Para ir onde eles todos desejam. Carro de todos, deles, mas nunca meu.
Como todos na face da Terra, não acha? E ainda assim acha que um carro é tudo para você?
Meu carro me daria asas, para voar, rodar por aí, ouvindo o meu CD, com as minhas músicas escolhidas, para guiar para onde eu quiser, levando quem eu desejar, carregando a minha própria bagagem. Um carro seria um meio dar asas a liberdade, apenas isso.
Soa meio metafórico. Bem, só acho que todo carro tem sua despesa, seu consumo, sua manutenção.
Sim, é o lado ruim, o preço que se paga, do combustível, do mecânico, dos pneus, do óleo, do seguro. Na vida tudo tem custo, tudo tem preço. Sei que a liberdade que teria com meu carro, logo me traria a preocupação em mantê-lo, e com a preocupação viria a tensão, o custo, o aborrecimento e o desgaste em vê-lo depreciar-se com o tempo.
Sim é verdade. Carro custa muito.
E é por isso que eu não compro um carro. Porque toda liberdade pode ser aprisionante.