30 junho, 2008

Crônicas: Correr, correr...


Correr Correr

Imagine um atleta que dedica seu tempo livre para treinar corrida de rua, seja na esteira ou na rua mesmo, acordando cedo todos os dias, deixando de dormir, de estar em casa com a família ou com os amigos até mais tarde da noite, porque precisa treinar cedo no dia seguinte.
Imagine este atleta ancioso pela prova de Meia Maratona, com o desafio de percorrer 21 km.
Acorda às 5 da manhã, pega um taxi, chega as 6:15 no PP da Barra e lá fica, se preparando, aquecendo, alongando, esperando pela hora mágica, a hora da buzinaça tocar.

Mas enquanto espera, faltando os 20 minutinhos finais, a "natureza" o chama, e o atleta vai ao banheiro químico instalado para uso dos corredores e do público.
Este é um dos maiores desafios de qualquer atleta. Já fizeram uso de um banheiro desses? Bem, viver sem aventuras é não ter história para contar, ainda que sejam histórias tristes ou no mínimo de cheiro e limpeza duvidosas. Bem, voltando ao atleta que vai ao banheiro. Ele lá ancioso por devolver o líquido que seus rins produziram de volta para a natureza, sentindo aquele odor discutível e eis que não consegue deixar de perceber que alguém fez uso do banheiro anteriormente para algo mais "sólido", digamos assim.
Até aí tudo bem, todo mundo tem o organismo que quer e cuida, não seria um problema ele ver aquilo não fosse pelo detalhe: NÃO HAVIA PAPEL HIGIÊNICO NO BANHEIRO E A PESSOA QUE DEIXOU O BANHEIRO NAQUELE ESTADO USOU O NÚMERO DE PEITO PARA SE LIMPAR!!!!! Bem, cada um se vira com o que pode, mas o detalhe é que o número de peito tem 20 x 15 cm!!!!! Não dá pra nada!!!!
Seria trágico se não fosse cômico. Coitado do cara que passou por isso. Tanta espera e treino!!!!! rs rs rs rs rs.

Este texto continua, agora narrando minha próprpia experiência. Na concentração da prova, pude tirar uma foto de Vossa Execelência, o presidente Lula, e sua primeira Dama, que correram a mesma prova que eu, trajados de terno e gravata e taier! Essa firguras são típicas das provas, como o homem natureza que corre provas vestido de verde e galhos e folhas, fora outras figuras, como o Papa Brasileiro, que "abençoa" os corredores enquanto corre.


Bem, depois de aquecer, alongar, a buzina tocou e então comecei a correr ao som de Eye of Tiger (nada mais estimulante do que a musiquinha do filme Rocky para dar um gás srsrsrs). A lista de músicas preparada pelo meu marido para ouvirmos em nossos MP4 players foi excelente, e manteve meu ritmo acelerado.

Então, a "alteta" que incorporei começou a correr empolgada passando as pessoas, feliz pelo desempenho melhor desta vez, animada pelas músicas. 6.5 km/h, 7.5km/h e mantive 8 km/h!

"Cristo Redentor, braços abertos sob a Guanabara". Ouvindo essa música num dia ensolarado como o de ontem, e correndo no meio de tanta gente era de fazer qualquer um se sentir maravilhado e emocionado por estar ali naquela prova. E depois de correr árduos, longos, suados, exaustivos, sacrificantes, intermináveis 2km e 75 metros (não riam!!!!! é muito para mim tá ? rsrsrs), comecei a sentir uma dor abdominal que me fazia querer "quebrar" (ou seja, andar), mas então, o milagre do doping musical!!!! Eis que quase começo a parar e então escuto "Hey dor, eu não te escuto mais, você não me leva a nada". Lágrimas me vieram aos olhos!!!! Emocionante!!! Eu pensei comigo mesma : Você pode!!! Termina essa prova sem quebrar e num tempo menor!!!

Superei aquela dor chata, e acelerei!!!! E depois de longos 42 minutos, terminei meu percurso de 6km sem andar!!!! Pode parecer pouco, mas há 6 meses eu não corria nem 5 minutos sem parar logo!!! Cada um com seu desafio e limite, e sem dúvida aquela prova era meu limite. Um dia eu chego mais longe rs rs rs rs.

Bem, kit com banana e tangerina e gatorade pegos, medalha ganha, voltei para ver o resto da corrida. Eu fiz minha prova em 42 minutos e fui assistir aos meio-maratonistas que chegariam depois. E a primeira pessoa que percorreu 21 km, completou a prova em 1:05!!!!! apenas 20 minutos depois de mim!!! rs rs rs rs rs rs Vixi!!! Esses atletas voam!!!!

Corrida de rua é um esporte solitário, não corremos em equipe, cada um corre em seu próprio ritmo e tempo, apenas treina junto. Quem mais nos dá empolgação é a nossa própria mente, e também os populares que gritam "vai, falta pouco, força". Mas há algo que sempre acontece. Corredores que estão próximos em ritmo e velocidade, correm dando apoio um ao outro. No meio da prova da Meia Maratona, lá pela Zona Sul, dois amigos corriam, ela, com uma cólica típica das mulheres nos dias de "incomodo" e ele bem preparado num ritmo bom. Quase que ela "quebra", porque a dor a incomodava muito, mas o amigo, meu marido no caso, "puxa" ela, Moniquinha, pra cima. "Vamos Monica, vamos comigo, não deixa cair não". E nesse estímulo, ela recuperou o ritmo, do trote voltou a velocidade normal, e logo em Botafogo, disparou na frente!!!! O que mostra que é um esporte sem competição mas com muita solidariedade. Talvez ela não conseguisse manter o ritmo e não acreditasse que poderia ir melhor, se não fosse a força que recebeu.

Na prova de Maratona, já no final faltando apenas 1 km, um corredor, magro, vinha já cambaleando, em grande sofrimento físico. Ao seu lado vinha outro maratonista, de outra equipe, um desconhecido do outro. Esse vinha acelerado, resistente e firme, poderia ir disparado e terminar sua prova em menos tempo, mas ele reduziu o ritmo, pegou o outro maratonista sofredor pelo braço e foram juntos, levando o outro até a chegada num trote mais vagaroso.

Dá pra não se emocionar com isso?????

Calma que tem mais!!!!!

Enquanto aguardava os meio Maratonistas chegarem, vi um homem correndo gritando animado. Faltavam apenas 500 metros para a final e ele vinha bem, e feliz. Até aí tudo bem, todo mundo termina a prova com uma satisfação indescritível. Eu sorri, e miope sem óculos não percebi um detalhe que só quando ele passou a uns 12 km por hora do meu lado é que pude ver. Ele não tinha uma das pernas!!!! Usava uma perna própria para corrida e vinha num ritmo melhor que o meu!!! hahahaha.

A obstinação humana me impressiona.

E pensam que acabou? Não!!!!

Um maratonista especial também me comoveu. Ele, saindo lá do Recreio, percorreu seus 42 km, descalço!!!!! Um índio, não sei de que tribo, usando apenas seu traje típico!!!!! Tem noção do que é correr 42 km descalços no asfalto quente!!!!!???? Impressionante.

E por último, um "cadeirante" maratonista, percorreu 42 km (to ficando redundante com isso de escrever Maratona e 42 km toda hora rsrsr), usando sua cadeira especial, cujo movimento maior é impulsionado pelos braços!!!!! Espetáculo não????

Bem gente, se escrever toda emoção, alegria, que senti ontem eu vou cansar vocês. Queria passar apenas um pouco do que é participar de um evento desses. Muito mais do que correr para ficar em forma, a corrida de rua é um momento de confraternização do esporte de forma democrática e popular. Diferentes academias, diferentes Estados do Brasil, e até países, se reuniram ali, para uma prova entre atletas de elite e amadores. É sem dúvida um esporte maravilhoso e convido vocês um dia a experimentarem. Eu também já reneguei, mas hoje não quero outra vida. Mas isso é como fé, só vivendo a própria experiência para dimensionar o tamanho dessa sensação.
Se nenhum argumento desses serve, fiquem sabendo então que corrida de rua é esporte de trintão para cima ha ha ha ha ha.


Bem, endorfina vicia, deixa a gente "high", leve, feliz. E é assim que me sinto hoje. Muitoooo feliz!!!
Obrigada por eu poder compartilhar com vocês tantas sensações boas e positivas. E é nessa energia que desejo uma semana GRANDIOSA a todos vocês. Lembrem-se: viver sem correr é viver sem prazer :-)

27 junho, 2008

Crônicas: Comer à mesa


Comer à mesa

Às vezes esse singelo ato de comer à mesa pode parecer meio óbvio.
Afinal qualquer ser humano educado e civilizado faz isso. Ninguém come sentado no chão, ou de pé na pia da cozinha o tempo todo!
Mas o comer à mesa a que me refiro é mais do que aquele ato automático de sentar-se, comer e levantar-se.
O comer à mesa a que me refiro é sobre um ritual religioso.

Hoje, com tantos fast-food, tantos "à quilo", sentamo-nos com a pressa de sempre, engolimos nossas comidas sem dar aquelas famosas 32 mastigadinhas, e nem olhamos para a pessoa desconhecida que sentou-se na mesma mesa que a nossa, num restaurante desses da vida.

Adquiri com meus pais, o velho hábito de comer à mesa, como um ato religioso. Aos domingos, sentávamos eu, meus pais e meu irmão, e comíamos aquele prato preferido de sempre. Era um momento que eu sentia aconchegada, acolhida, amada. Lógico que como toda família tivemos bons e maus momentos, mas os bons, quase sempre tiveram haver com esses almoços. Era quando conversávamos, era quando meu irmão debochava e me irritava, e quando eu implicava com ele como bons e saudáveis irmãos que se amam, era quando meus pais conversavam mais com a gente.

Nos dias festivos, íamos à casa de meus avós maternos, e vovó, mãe de 22 filhos (ela pariu 22!!!), tinha o grande prazer de reunir aquela "cabeçada" de filhos, e netos e bisnetos, numa mesa enorme, na garagem da casa de meus avós.
Era um ritual que me fazia sentir parte de algo grande, me fazia compreender o que é legado, o que é memória, o que é estar em família num sentido mais amplo, ao lado de parentes com suas peculiaridades, diferenças, rixas, alegrias, etc.

Hoje em dia, vivemos tempos corridos, e pouco temos tempo para parar e fazer uma decente refeição, sentados com calma, ao lado de pessoas interessantes, queridas, com as quais desejamos trocar idéias.
Tento fazer isso com meu marido e filhos, nos fins de semana. Seja em restaurante, em casa, ou no McDonald's, sentamos para conversar, saber da vida, da semana, e ouvir os filhos falarem de si e nós falarmos nossas teorias de vida, nossa filosofia própria para educa-los rs rs rs rs (invariavelmente com tom de humor e deboche, porque nada mais lúdico do que ensinar brincando).

Bem, comer a mesa com a família é um hábito necessário.

Mas gostaria de falar das benéficies de comer à mesa com os amigos e colegas de trabalho.
Sem intenção virar um hábito certo, eu e mais quatro amigos queridos costumamos nos reunir em almoços de sextas-feiras, em restaurantes mais caros ou diferentes e com mais tempo livre para gastarmos. E devo dizer que este ritual mágico-religioso-filosófico é uma das coisas que ajuda a manter a sanidade mental. É onde nos sentimos aconchegados, não pelo laço matrimonial, nem pela identidade consaguínea. Nos sentimos acolhidos pelas afinidades fraternas. Pelas almas complementares que somos uns para os outros. Basta um de nós olhar para ver quando um outro não está bem. Bastam umas piadas bobocas, para arrancar o sorriso de quem está num dia ruim, basta meia dúzia de filosofia de botequim para transformar aquele "comer à mesa" em um agradável momento da semana, necessário para sentirmos que a vida sem a família de amigos é como vida sem paixão, é viver sem razão!

E você? Já sentou à mesa hoje com seus amigos queridos? Faça disso um hábito. Verá que acaba virando uma necessidade quase como respirar ;-D.

Raquele Braga - 27/06

25 junho, 2008

Crônicas: O longe



Caros amigos,
ontem fui brindada gentilmente com alguns emails elogiando e agradecendo o texto que mandei sobre o velho atravessando a rua.
Acreditem, mandei sem imaginar que sequer receberia uma reposta, e fico feliz que de alguma forma o que eu tenha escrito mexeu positivamente com alguns que leram. Marcelle, vc disse na sua resposta que eu sou a salvação do pessoal de informáticaporque tenho sensibilidade rs rs rs rs, mas eu reforço que engenheiros e homens em geral também tem, pq os meninos foram os que mais responderam!!!! O mundo está mudando!!! rs rs rs rs

Isso me faz ter novo gás para voltar a minha "cachaça" que é escrever estórias, contos, e textos soltos. Andei adormecida, pq a vida corrida nos leva a priorizar outras coisas mais fundamentais ao dia a dia. Mas como estou num período sabático na IBM essa semana, sobrou tempo para escrever.

Espero em breve poder voltar com tudo, mas isso não é um compromisso com ninguém mais senão do que comigo mesma. Afinal se escrevo é para expor como vejo o mundo, tal como alguém que pinta um quadro, sem qualquer expectativa de que venha ser "comprado" por milhões de dólares.

Mas é claro que me sinto regozijada ao receber com carinho a resposta de vocês e obrigada, porque isso é um incentivo puro e sem interesse, tal como o que escrevo é, sem menor intenção de causar nada, apenas de dar voz ao que tem em mim.

Para hoje, uma observacao boba...

O longe

Já repararam como pouco olhamos para o horizonte? Certa vez vi uma reportagem em que um médico oftalmo relatava que o homem moderno tem dificuldades de olhar para longe, porque o mundo moderno é tudo muito "perto". A tela da TV, telas de micros, o carro da frente, a porta do vizinho no corredor do edifício, o predio ao lado... Pouco olhamos para o horizonte, lá longe, e dai nossa perda de "visão" à longas distâncias em relação aos nossos ancestrais.

Poderia falar que isso é uma metáfora interessante, o longe pode ser entendido como o amanhã, ou como as pessoas que estão distantes de nós, ou como um sonho que deixamos pra lá, porque está longe.
E por ser mais fácil de ver, preferimos o que está perto, o hoje, as poucas pessoas ao nosso redor, as numerosas tarefas do dia a dia.
Depois que vi essa reportagem, tomei por hábito eventualmente tentar olhar para longe. Coisa que é difícil, porque são inúmeros os arranha-céus e obstáculos à nossa frente.

Mas fui brindada há 4 anos quando vim para Jacarepagua, terra ainda sem tantos edifícios e que me permitiam olhar da sacada da varanda para o "longe", de onde eu avistava até mesmo a Pedra da Gavea!!! Eu realmente via o longe.
Há 7 meses, morando num novo condomínio, ganhei de presente essa paisagem que envio anexa. É o meu longe que bate na janela do meu quarto todas as manhãs... e a sensação de olhar para o sol nascendo me faz ser grata pela oportunidade de ver o longe logo nas primeiras horas do dia e anima o dia de uma forma maravilhosa!

Este é o último nascer do sol de outono de 2008. Quando olho para essa paisagem, percebo a grandeza do nosso mundo. Espero que vocês possam ver o "longe" em diferentes oportunidades do dia. Afinal é de graça e faz a gente ver como a vida é imensamente grandioza para perdermos tanto tempo com a tela do computador!



por Raquele Braga 25-06-08

Crônicas: O velho atravessando a rua


Sem querer levar para o sentimentalismo e pieguismo.
Mas queria compartilhar uma cena peculiar que me deparei hoje numa das ruas do Méier.
Estava parada dentro do carro esperando o semáforo ficar verde (sinal abrir é uma expressão estranha rsrs).
Vi um camelô que vendida "de um tudo": cabo de chupeta para bateria, escova de dentes, benjamins, corda elástica de camping, desentupidor de pia, coador, rolo de macarrão, corrente de bicicleta...)
Estava ele arrumando sua banquinha quando ao atravessar a rua, um senhor puxando seu carrinho de feira cheia de compras de supermercado chegou do outro lado da calçada e o carrinho arrbentou o seu fundo, quebrando um pote de maionese e é claro (típico) os ovos comprados, além de ter espalhado suas compras pelo chão.
O dono da barraquinha "bombril" com suas mil e uma utilidades, rapidamente largou seu pequeno comercio e foi em direcao ao senhor, e inquieto tentou ajudá-lo, catando tudo que se espalhara pelo chão, na ânsia de ajudar o senhor idoso. Ele voltou até sua barraquinha e por incrivel que pareça nao achou nada que pudesse resolver o problema do carrinho, mas como o rumo dessa história não poderia ser diferente, um dono de barraquinha de bolsas logo apareceu oferecendo um "barbante" plástico, e logo o dono da barraquinha bombril, pôde amarrar o carrinho do senhor idoso, firme para que as compras não mais caissem.
Bem, contei a hitorinha, mas onde eu quero chegar?
Simples, amo o povo brasileiro, pelo simples fato de ser um povo que se doa pelo outro, que apesar de ser sempre sacrificado, por 508 anos de governos omissos e opressores economicamente, não desiste nunca de ser feliz e de fazer do Brasil um lugar mais humano. Um povo que sabe parar o que está fazendo, para olhar pelo próximo, não porque aprendeu na igreja, mas porque generosidade está no sangue. Um povo que não precisa ir para escola para aprender que é impossível fazer o mundo um lugar melhor e decente de se viver, se não houver o mínimo de solidariedade entre as pessoas. Um povo sem cultura, sem educação, sem saúde, alienado politicamente, mas ainda sim um povo que me orgulha em chamar de meu!
Desconfio que esta cena talvez não se repetisse em alguns lugares mais "civilizados" na própria cidade do Rio de Janeiro ou no Brasil, ou ainda no mundo todo. Não que o Méier não seja um bom lugar, mas é só para ilustrar que as vezes nem nós estamos atentos às mais simples necessidades dos outros ao nosso redor, e nos enfiamos nos nossos mundos corridos esquecendo que eventualmente é preciso "parar" o que estamos fazendo, e ajudar "o velho atravessando a rua com seu carrinho quebrado".

Raquele Braga - 24-06-2008