27 junho, 2008

Crônicas: Comer à mesa


Comer à mesa

Às vezes esse singelo ato de comer à mesa pode parecer meio óbvio.
Afinal qualquer ser humano educado e civilizado faz isso. Ninguém come sentado no chão, ou de pé na pia da cozinha o tempo todo!
Mas o comer à mesa a que me refiro é mais do que aquele ato automático de sentar-se, comer e levantar-se.
O comer à mesa a que me refiro é sobre um ritual religioso.

Hoje, com tantos fast-food, tantos "à quilo", sentamo-nos com a pressa de sempre, engolimos nossas comidas sem dar aquelas famosas 32 mastigadinhas, e nem olhamos para a pessoa desconhecida que sentou-se na mesma mesa que a nossa, num restaurante desses da vida.

Adquiri com meus pais, o velho hábito de comer à mesa, como um ato religioso. Aos domingos, sentávamos eu, meus pais e meu irmão, e comíamos aquele prato preferido de sempre. Era um momento que eu sentia aconchegada, acolhida, amada. Lógico que como toda família tivemos bons e maus momentos, mas os bons, quase sempre tiveram haver com esses almoços. Era quando conversávamos, era quando meu irmão debochava e me irritava, e quando eu implicava com ele como bons e saudáveis irmãos que se amam, era quando meus pais conversavam mais com a gente.

Nos dias festivos, íamos à casa de meus avós maternos, e vovó, mãe de 22 filhos (ela pariu 22!!!), tinha o grande prazer de reunir aquela "cabeçada" de filhos, e netos e bisnetos, numa mesa enorme, na garagem da casa de meus avós.
Era um ritual que me fazia sentir parte de algo grande, me fazia compreender o que é legado, o que é memória, o que é estar em família num sentido mais amplo, ao lado de parentes com suas peculiaridades, diferenças, rixas, alegrias, etc.

Hoje em dia, vivemos tempos corridos, e pouco temos tempo para parar e fazer uma decente refeição, sentados com calma, ao lado de pessoas interessantes, queridas, com as quais desejamos trocar idéias.
Tento fazer isso com meu marido e filhos, nos fins de semana. Seja em restaurante, em casa, ou no McDonald's, sentamos para conversar, saber da vida, da semana, e ouvir os filhos falarem de si e nós falarmos nossas teorias de vida, nossa filosofia própria para educa-los rs rs rs rs (invariavelmente com tom de humor e deboche, porque nada mais lúdico do que ensinar brincando).

Bem, comer a mesa com a família é um hábito necessário.

Mas gostaria de falar das benéficies de comer à mesa com os amigos e colegas de trabalho.
Sem intenção virar um hábito certo, eu e mais quatro amigos queridos costumamos nos reunir em almoços de sextas-feiras, em restaurantes mais caros ou diferentes e com mais tempo livre para gastarmos. E devo dizer que este ritual mágico-religioso-filosófico é uma das coisas que ajuda a manter a sanidade mental. É onde nos sentimos aconchegados, não pelo laço matrimonial, nem pela identidade consaguínea. Nos sentimos acolhidos pelas afinidades fraternas. Pelas almas complementares que somos uns para os outros. Basta um de nós olhar para ver quando um outro não está bem. Bastam umas piadas bobocas, para arrancar o sorriso de quem está num dia ruim, basta meia dúzia de filosofia de botequim para transformar aquele "comer à mesa" em um agradável momento da semana, necessário para sentirmos que a vida sem a família de amigos é como vida sem paixão, é viver sem razão!

E você? Já sentou à mesa hoje com seus amigos queridos? Faça disso um hábito. Verá que acaba virando uma necessidade quase como respirar ;-D.

Raquele Braga - 27/06

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