25 junho, 2008

Crônicas: O velho atravessando a rua


Sem querer levar para o sentimentalismo e pieguismo.
Mas queria compartilhar uma cena peculiar que me deparei hoje numa das ruas do Méier.
Estava parada dentro do carro esperando o semáforo ficar verde (sinal abrir é uma expressão estranha rsrs).
Vi um camelô que vendida "de um tudo": cabo de chupeta para bateria, escova de dentes, benjamins, corda elástica de camping, desentupidor de pia, coador, rolo de macarrão, corrente de bicicleta...)
Estava ele arrumando sua banquinha quando ao atravessar a rua, um senhor puxando seu carrinho de feira cheia de compras de supermercado chegou do outro lado da calçada e o carrinho arrbentou o seu fundo, quebrando um pote de maionese e é claro (típico) os ovos comprados, além de ter espalhado suas compras pelo chão.
O dono da barraquinha "bombril" com suas mil e uma utilidades, rapidamente largou seu pequeno comercio e foi em direcao ao senhor, e inquieto tentou ajudá-lo, catando tudo que se espalhara pelo chão, na ânsia de ajudar o senhor idoso. Ele voltou até sua barraquinha e por incrivel que pareça nao achou nada que pudesse resolver o problema do carrinho, mas como o rumo dessa história não poderia ser diferente, um dono de barraquinha de bolsas logo apareceu oferecendo um "barbante" plástico, e logo o dono da barraquinha bombril, pôde amarrar o carrinho do senhor idoso, firme para que as compras não mais caissem.
Bem, contei a hitorinha, mas onde eu quero chegar?
Simples, amo o povo brasileiro, pelo simples fato de ser um povo que se doa pelo outro, que apesar de ser sempre sacrificado, por 508 anos de governos omissos e opressores economicamente, não desiste nunca de ser feliz e de fazer do Brasil um lugar mais humano. Um povo que sabe parar o que está fazendo, para olhar pelo próximo, não porque aprendeu na igreja, mas porque generosidade está no sangue. Um povo que não precisa ir para escola para aprender que é impossível fazer o mundo um lugar melhor e decente de se viver, se não houver o mínimo de solidariedade entre as pessoas. Um povo sem cultura, sem educação, sem saúde, alienado politicamente, mas ainda sim um povo que me orgulha em chamar de meu!
Desconfio que esta cena talvez não se repetisse em alguns lugares mais "civilizados" na própria cidade do Rio de Janeiro ou no Brasil, ou ainda no mundo todo. Não que o Méier não seja um bom lugar, mas é só para ilustrar que as vezes nem nós estamos atentos às mais simples necessidades dos outros ao nosso redor, e nos enfiamos nos nossos mundos corridos esquecendo que eventualmente é preciso "parar" o que estamos fazendo, e ajudar "o velho atravessando a rua com seu carrinho quebrado".

Raquele Braga - 24-06-2008

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