19 junho, 2007

Sobre a natureza

As éguas, que me conduziam, quanto meu coração desejava, levaram-me pelo famoso caminho das deusas, que conduz o sábio através de todas as cidades. Por ele era eu conduzido; por ele me levavam as mui destras éguas, puxando o carro, e as moças indicavam o caminho.

Os eixos ardiam nos cilindros e ressoavam com estridente sibilo (pois duas rodas se aceleravam de ambos os lados), sempre que as jovens heliades aumentavam a velocidade, que deixavam a morada da noite na direção da luz, afastando os véus da cabeça.

Ali estão os portais dos caminhos da noite e do dia, tendo em cima uma trave e em baixo um degrau de pedra; a porta mesma, a etérea, é fechada com duas imensas folhas; a chave, de uso alternante, da porta, é guardada pela Justiça muito castigadora.

As jovens lhe falam com suaves palavras e a convencem habilmente, para que 1hes retire da porta as aferrolhadas traves. Então esta abriu largamente o abismo entre seus batentes de bronze, que giraram sobre seus gonzos, providos de dobradiças e cravos. Conduziram então as jovens o carro e as éguas, através do portal sobre o caminho.

E a deusa me acolheu com afeto, tomou a minha mão direita com a sua e me dirigiu a palavra, dizendo-me:
Jovem, companheiro de imortais condutores, que chegas à nossa morada com as éguas que te conduzem, saúdo-te!

Pois não foi nenhum fado mau que te induziu vir por este caminho (que está longe do caminho, dos homens), mas a Lei e a Justiça .

Porém é preciso que conheças tudo, tanto o coração imperturbável da verdade bem rotunda, como as opiniões dos mortais, nas quais não reside a verdadeira crença. Aprenderás também isto, como as aparências são um saber aparente, estendendo-se todas através de tudo.

Esse texto é de Parmênides, fragmentos do poema sobre a natureza. Grego, nascido na Italia, em 540 ac. Nada mais atual.

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