14 outubro, 2008

Crônicas: Meu amor, o que você faria se só lhe restasse esse dia?


Meu amor, o que você faria se só lhe restasse esse dia?

Para quem tem medo absurdo da morte, essa é uma pergunta temerosa.
Porque me faz refletir sobre o que é mais importante e o que deve ser feito antes do momento final.

Seria clichê demais dizer que gostaria de reunir amigos, parentes e todas as pessoas queridas e especiais que fizeram parte da minha existência, e dizer a cada um deles o quão suas pitadas de açucar na massa do bolo da minha vida a tornaram doce, ou o quanto o amargor da calda que muitos ousaram derramar, tornaram o recheio bem interessante, ainda que num primeiro momento, meio desgostoso de engolir, mas necessário porque assim pude aprender a diferenciar o paladar.

À alguns que foram amados e me amaram de forma especial, agradeceria pelo fermento adicionado, que fizeram a massa crescer, tornando-a visivel, atraente e apetitosa.

Àqueles que foram como gurus, verdaderios anjos, não poderia deixar de reconhecer a cobertura linda que me deram, o qual não teria dado ao bolo tamanha delicadeza e acabamento.

Aos meu filhos, filhos de amigos próximos e aos sobrinhos diria que as jujubas que posicionaram tão incrivelmente em torno do bolo deram um doque de docilidade, infantilidade, inocência e magia, sem o qual ele seria muito sem graça e nada aprazível aos olhos.

E àquele que me acompanhou há longos anos, quase metade da minha vida, dando fogo do amor incondicional à vela do bolo, eu daria um beijo e diria meu muito obrigada por ter mantido essa vela acesa sem a qual a festa não teria a menor graça e sentido de existir.

E assim, cantaríamos parabéns pela vida, ou pela morte, cortaríamos o bolo, comeríamos, riríamos, lembraríamos, choraríamos, nos despediríamos, e enfim, a ela me entregaria, feliz pelo dever cumprido e com a grata satisfação de dizer: SIM EU VIVI PLENAMENTE.

Mas espero que essa festa demore ainda uns 60 anos para acontecer, porque eu realmente morro de medo de morrer!

Raquele Braga

Um comentário:

Andre disse...

Raquele, bom dia.

Digo que o oposto da morte é nascimento e, vida? Vida é outra coisa, muito maior do que essas transições: morte, nascimento, crescimento.

Quero dizer que AMO ver seus "bebês" nascerem.